Meraki
"Daria tudo o que sei pela metade do que ignoro"
Carta de um tempo de guerra
Querido XX
Nunca poderei expressar a minha gratidão por todas essas palavras amigas que me enviaste. Gostava de me fazer de forte, e dizer que não estou comovido, como os homens fortes, diante desse papel amarrotado, que me escreveste em breves pausas de combate, com o pequeno lápis que levas sempre no bolso esquerdo, ao lado das balas.
Como responder a tal fidelidade? Essa fidelidade amiga que resiste aos campos nevados, aos gritos dos homens em desespero, ao impacto surdo das bombas disparadas, na verdade, por ninguém. Essa fidelidade que resiste ao frio que aconchega os cadáveres dos nossos amigos de infancia que partiram contigo. Esses das brincadeiras ingénuas, dos jeitos amuados, dos joelhos esfolados, dos cabelos despenteados e colados à testa pelo suor das corridas intermináveis. O nossos amigos que eram os príncipes imortais das nossas aventuras sonhadas juntos.
Aqui rezo, cheio de dor, por ti. E tu retribuis-me com uma amizade sincera, com um: “está tudo bem” ou um “não te preocupes”. Sabes que não é assim, que qualquer bala perdida fechará os teus olhos para sempre. Mas isso não te importa. Perguntas-me pelos meus estudos, pelos meus amores, pelo meu futuro (que viverei quando já tiveres, há muito, desaparecido). Pedes ao Senhor que me abençoe.
A verdade é que a minha vida foi também desfeita pelos estilhaços de todas essas bombas que vos matam. Sinto-me a perder o sentido de ordem interior em que tinha empacotado a minha existencia. Desfeito de saudades vossas. Magoado pelas vossas palavras, talvez as últimas, que me consolam. Magoam e consolam, por serem as últimas.
Vou tentando meditar, tentando não deixar que as imagens dos vossos rostos me atrapalhem o que me resta da luz de Deus. Imagino essas trincheiras enlameadas neste inverno que não deixa entrar a primavera. Talvez as primeiras flores surjam quando vocês já não estejam entre nós. Talvez vocês morram de verdade e estas palavras já não vos cheguem.
Fizeram-se gigantes para mim. Existem apenas no silêncio da noite, quando me recolho para meditar em silêncio a Palavra de Deus como único ponto de cristalização que dá horizonte à minha vida. A única coisa que ainda me ordena, que me re-situa, que me consola. Como um íman que recolhe os últimos restos de profundidade das coisas, as últimas fontes de esperança, os últimos olhares de benevolência. Nesse momento apresento ao Altíssimo o último lugar de disciplina, de quietude, de cura e de alegria da minha vida. E recordo baixinho as palavras do Salmo:
Ele estabeleceu a paz nas tuas fronteiras
e saciou-te com a flor do trigo.
Ele manda as suas ordens à terra,
e a sua palavra corre velozmente;
faz cair a neve, branca como a lã,
espalha a geada como se fosse cinza;
faz cair o granizo como migalhas de pão;
com o seu frio, quem pode resistir?
Envia a sua palavra e o gelo derrete-se;
faz soprar o vento e correr as águas
(Sl. 147, 14-18)
Esta manhã o gelo começou a derreter e as primeiras flores brotarão em breve, com os pássaros que chegam do sul. Daqui a poucas semanas festejaremos a Páscoa, e cantaremos alegres a sua mensagem de paz. ´
Escrevo-te estas palavras nas esperança que as leias. Se não puderes, que os anjos as sussurrem aos ouvidos, quando repousado, entrares na glória de Deus
Que o Senhor te abençoe e te guarde.
(retirado de https://pontosj.pt/opiniao/carta-de-um-tempo-de-guerra/)
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O que se passa na Síria ? A imprensa dirá toda a verdade ?
Bem sei que pouco podemos fazer contra esta maldita guerra .... mas hoje queria mesmo homenagear todos mas mesmo todos os que estão a vivê-la , apenas pelo AMOR; pelo AMOR aos outros : tantos voluntários, leigos, missionários , médicos , e milhares de outras pessoas que por vontade própria, que poderiam estar a viver confortavelmente , no meio da paz, não.... eles estão e preferem estar no meio do inferno; Como os admiro e respeito; Por eles, faço questão de parar , rezar, elevar o meu pensamento a eles; pois com certeza estão no Alto e são donos de uma essência divina, que é o mais puro AMOR; Que a Luz Divina esteja sempre presente nessa horrivel escuridão e Abençoe cada um deles, assim como cada inocente que a vive;
Partilho estes registos , de 2 missionários que lá se encontram, também para nos questionarmos sobre se realmente o que chega até nós é realmente verdade; no mínimo devemos sempre questionar, pois eu acreditei piamente que existiu um ataque quimico.....
O padre Bahjat Elia Karakach, franciscano da Custódia da Terra Santa, e um dos mais respeitados religiosos católicos na Síria, denuncia que o governo sírio está sendo alvo de uma mentira alimentada pelos Estados Unidos e pelos seus aliados na Europa, no Golfo Pérsico e no Oriente Próximo. O padre Bahjat refere -se às acusações de que o governo do ditador Bashar Al-Assad teria usado armas químicas contra civis na região de Goutha, a poucos quilômetros de Damasco, na semana passada. O suposto ataque já foi negado também pelos russos, aliados de Assad, que acusam os norte-americanos e britânicos de terem forjado esse crime com a manipulação de informações e imagens alegadamente tiradas do seu real contexto.
Goutha é um dos últimos enclaves que restam nas mãos dos rebeldes contrários ao ditador Assad. A maioria deles é formada por milicianos da Al-Qaeda. Não se trata de uma defesa de Assad e da sua ditadura por parte do pe. Bahjat, como, precipitadamente, alguns críticos interpretaram. Trata-se de uma denúncia de manipulação e de um pedido para que todos os lados desta guerra absurda e genocida sejam claramente levados em conta, sem assumir como verdadeira apenas a versão vendida por influentes segmentos da mídia mundial.
Motivações econômicas : Para o padre Bahjat, as vitórias do regime de Assad contra os rebeldes terroristas não interessam ao mundo ocidental e aos seus aliados no Golfo Pérsico. : “Isto [os avanços do exército sírio] desagrada quem financia os terroristas. E nós dizemos isto sem papas na língua”.
A quem ele se refere? “O mundo ocidental que sustenta os terroristas, instrumentos e aliados dos estados árabes do Golfo, principalmente a Arábia Saudita, para defender os interesses desses países e de Israel. Digam isso. Falem desta grande mentira, vamos dizer a verdade!”
A ênfase da comunicação social em apenas um lado
Embora seja notório que o regime ditatorial de Bashar Al-Assad tenha perpetrado graves abusos e violências contra o povo da Síria, também é verdade que as atrocidades perpetradas pelos rebeldes são bastante menos denunciadas pela mídia ocidental. As muitas dúvidas sobre o que de fato aconteceu em Goutha semana passada, porém, têm forçado os comentaristas a abordarem também as outras versões. Mas as acusações de mentiras, omissões e deturpações da realidade no país massacrado pela guerra não são recentes: quem vive em primeira mão o contexto local as vem fazendo há anos
"Ninguém fala do que está acontecendo aqui em Damasco. Mas faz semanas que estamos sob o bombardeio dos rebeldes. As escolas estão fechadas, a vida social e econômica está paralisada. Até poucos minutos atrás, estivemos sob ataque dos morteiros de Goutha, dos rebeldes.."
A irmã Yola, missionária do Coração Imaculado de Maria em Damasco, testemunhou logo após uma noite de bombardeios em março: Não dormimos esta noite. Das 2h às 5h as explosões foram contínuas. Cerca de um mês atrás tudo estava quieto, parecia quase que a guerra tinha acabado, a não ser em Bab Touma, onde os mísseis continuaram sendo lançados. Mas depois da chegada do exército os lançamentos de mísseis aumentaram. Os mísseis nos apavoram porque causam explosões enormes”. Em Bab Touma foi atingido, entre tantos outros civis, o menino Lias, de 8 anos de idade. Seus pais tinham tentado durante anos até conseguirem ter um filho, para que depois o pequeno fosse assassinado pelos mísseis rebeldes........
Fonte : https://pt.aleteia.org/author/gelsomino-del-guercio/