Meraki
"Daria tudo o que sei pela metade do que ignoro"
Tão Bonito.... o abraço do laço :)
Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.
Mário Quintana
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A escada da Vida
Encontrou se a Caridade
Com o Orgulho, certo dia!
Subia o Orgulho uma escada,
E a Caridade, descia.
Ela humilde, ele arrogante
No patamar dessa escada,
Os dois, cruzando-se , viram
Uma rosinha pisada.
Emproado,o Orgulho, vendo-a,
Deu -lhe uma nova pisadela;
De joelhos , A Caridade
Deitou - se aos beijos a ela.
Mas nobres passos se ouviram
De som divino e tremendo;
O Orgulho seguiu, subindo,
E a Caridade , descendo...
E a voz de Deus ,entretanto,
Disse, bramando e sorrindo:
_Tu, que sobes ,vais descendo!
"Tu ,que desces, vais subindo!"
De Eugenio de Castro In "Cravos de papel"- 1922.
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Milagres que não vemos....
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu voo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
Manoel Bandeira.
Publicação original: in Estrela da Tarde (1963)