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“Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.”

Sexta-feira, 13.07.18

   A pensar em todos os professores, cujas vidas continuam na corda bamba, suspensas, inseguras,desde há alguns anos, .....partilho este texto lindissimo de Valter Hugo Mãe; 

 

"Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade.

A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria do mundo em que o mundo se tem vindo a tornar.  Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe.

    Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesses crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo.

Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes.

Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se tivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível.

Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias.

     Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto.

As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se." (não acrescento nem mais uma virgula)

 

Autobiografia Imaginária | Valter Hugo Mãe | JL Jornal de Letras, Artes e Ideias | Ano XXII | Nº 1095 | 19 de Setembro de 2012., retirado da https://www.revistapazes.com/belissima-reflexao-os-professores-por-valter-hugo-mae/ e SPGL – Sindicato dos Professores da grande Lisboa (Portugal)

 

 

 

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publicado por Maria Oliveira às 21:21

Vigie....

Quinta-feira, 12.07.18

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Pintrest

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publicado por Maria Oliveira às 23:45

Destino é questão de escolha ?

Terça-feira, 10.07.18

    Em imensas situações da minha vida me questionei sobre o destino; já estará a minha vida traçada algures,escrita como será vivida? Deus terá planos para cada um de nós? O mal e o bem que acontece a cada um de nós já estava previsto algures? E com quase 40 anos ainda não sei responder a nada disto; já li vários livros sobre o tema mas fiquei ainda mais confusa; Podemos escolher o nosso destino ou não? 

Uma coisa é certa, posso mudar o rumo dos meus dias, mudando o rumo dos meus pensamentos...até ao dia final;  

Já muitos autores (já li alguns) abordaram o tema sobre diferentes pontos de vista, dos quais partilho aqui:

Segundo Augusto Cury,  Nunca Desistas dos Sonhos,  as nossas escolhas é que determinam o nosso caminho. Fernando Pessoa no livro do Desassosego " Assim como lavamos o corpo devíamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa" e "Nada há que tão notavelmente determine o auge de uma civilização, como o conhecimento, nos que a vivem, da esterilidade de todo o esforço, porque nos regem leis implacáveis, que nada revoga nem obstrui. Somos, porventura, servos algemados ao capricho de deuses, mais fortes porém não melhores que nós, subordinados, nós como eles, à regência férrea de um Destino abstracto, superior à justiça e à bondade, alheio ao bem e ao mal."

  José Saramago, em Cadernos de Lanzarote diz que "O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada directamente a um alvo que, por assim dizer, a estivesse esperando desde o princípio, sem se mover. Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a decidir-se... "

  Schopenhauer, filósofo alermão, diz que o destino não está traçado  e admite que ele  pode nos dar as circunstâncias, mas que somos nós mesmos que temos de jogar com o que o destino nos dá. Já Sartre, filósofo, não acredita no destino. Acredita sim, que o homem tem o poder de construir o seu caminho conforme quiser.

"Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele", dizia o La Fontaine

    Clarice Lispector  " Eu sinto que nós chegamos ao limiar de portas que estavam abertas – e por medo ou pelo que não sei, não atravessamos plenamente essas portas. Que no entanto têm nelas já gravado o nosso nome. Cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado, e é só através dela que essa pessoa perdida pode entrar e se achar." e  "É determinismo, sim. Mas seguindo o próprio determinismo é que se é livre. Prisão seria seguir um destino que não fosse o próprio. Há uma grande liberdade em se ter um destino. Este é o nosso livre-arbítrio"

    Eça de Queiros nos Maias  "A gente nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau."

"Quando um homem procura o seu destino, vê-se muitas vezes forçado a mudar de rumo. Outras vezes, as circunstância externas são mais fortes e vê-se obrigado a acobardar-se e a ceder. Tudo isto faz parte da aprendizagem." Paulo Coelho, em Monte Cinco e "Os homens são mestres do seu próprio destino. Podem cometer sempre os mesmos erros. Podem fugir sempre de tudo o que desejam e que a vida, generosamente, coloca diante deles."(Brida)

A ideia mais confusa que encontrei foi do Alexandre Dumas ,  "O destino de uma mulher lê-se nas feições do marido" (não percebi?!?!); das restantes ainda dá para compreender e refletir 

E vocês ,o que acham ? já estará escrito algures que o post será ignorado , kkkkkkkkkkkkk 

 

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publicado por Maria Oliveira às 12:59


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